domingo, 3 de maio de 2015

TÉCNICAS PARA CRIAÇÃO DE ARRANJO MUSICAL

A capacidade de arranjar está relacionada com a habilidade de variar. Um bom arranjador deve ter um alto grau de criatividade. Independente da linguagem, seja ela Popular ou Erudita, o aluno de composição deve ser incentivado a criar arranjos, pois o desenvolvimento de estratégias noPLANEJAMENTO E FINALIZAÇÃO DE UM ARRANJO pode ajudá-lo na concretização de obras de maior envergadura. É importante que o aluno seja colocada frente a este  problema: adaptar uma certa melodia dada a uma configuração instrumental, vocal ou mista.
    Sob o ponto de vista educacional e profissionalizante, a capacidade de atuar como arranjador pode proporcionar ao aluno um amplo campo de atividades tais como: arranjo para produção na música popular, criação de trilhas para teatro e cinema entre outros. Compositores renomados como GERSHWIN e BERNSTEIN, entre tantos outros,  transitaram nesta interface. O ensino de técnicas de criação de arranjo tem implicações importantes na formação educacional de um jovem compositor.
    DELAMONT , reitera a idéia do parágrafo anterior, ao mencionar que a atividade de um arranjador necessita de um certo grau de interpretação e capacidade individual de variar. Implica, em muitos casos, em re-criar. Geralmente, o começo é dado através de uma melodia e a harmonização básica da mesma,  o processo seguinte é fruto de engenho pessoal. A composição não é o objetivo principal desta aula, todavia procuramos incorporar conceitos e técnicas que podem ser úteis ao compositor. Não se enfatizam as técnicas exclusivas da Música Popular ou Erudita, na realidade há um esforço no sentido de criar interfaces que funcionem como pontes entre as mesmas. Desta forma alunos de diferentes formações e origens poderão ser enriquecidos com este estudo.
    Para exemplificar a idéia anterior, pode-se notar que na seção DIFERENTES PROCESSOS DE DISTRIBUIÇÃO E CONDUÇÃO DE VOZES, apresentam-se conceitos tradicionais vinculados aos movimentos paralelo, oblíquo e contrário e o processo de arranjo da música popular denominada de Escrita em Bloco. Na perspectiva tradicional o objetivo é aumentar a eficiência na condução de vozes, dando-lhes autonomia e evitando saltos desnecessários. Em contrapartida, quando o arranjador faz uso de blocos a melodia é suportada pela harmonia sem preocupação na individualidade das vozes que formam o bloco. Neste caso, o resultado é uma textura derivada do amalgama de instrumentos de mesmo timbre, como, por exemplo um naipe de saxofones numa Big Band. Todavia, a medida que o arranjador diminui o uso de acordes na posição fechada  e nas posições abertas (conhecidos comoDROPS),  adotando também posições espalhadas (denomindas de SPREADS), o produto  sonoro final tende a possuir características de independência de vozes. Nos "spreads", a nota do baixo, na voz mais grave do bloco, gera movimentos contrários e oblíquos entre as vozes superiores. Os spreads podem ser escritos como corais quando, em trechos lentos, soam como uma "cortina harmônica". Este exemplo mostra que o arranjador pode produzir um continuum de transformações, variar sua técnica, gerando um espaço onde poderá transitar entre duas linguagens de forma criativa.
    As seis seções que se seguem estão conectadas entre si; na realidade há uma sequência gradual e acumulativa de conceitos que culminam com a seção ESCRITA PARA BIG BAND. O aluno perceberá que é necessário utilizar TÉCNICAS DE REHARMONIZAÇÃO para variar o conteúdo harmônico do arranjo. Poderá também transformar o tema original através de TÉCNICAS DE CONSTRUÇÃO E VARIAÇÃO  melódicas. Portanto, as seções da aula estão interligados entre si.
    Na primeira seção, MELODIA: TÉCNICAS DE CONSTRUÇÃO E VARIAÇÃOdiscutem-se procedimentos que vão desde Aspectos Gerais como curva melódica até Arranjo da Melodia. O ponto de partida são as Estruturas Motívicas onde discutem-se formas de repetir e variar um dado motivo ritmico-melódico. O segundo tópico aborda a Construção Melódica em si.  SCHOENBERG, dedica os primeiros capítulos de seu livro "Fundamentals of Musical Composition"  a este assunto, citando vários exemplos onde uma estrutura motívica é desdobrada na construção de uma melodia. Menciona ainda que um motivo é usado através da repetição que pode ser exata, modificada ou desenvolvida. Desta forma, os dois tópicos seguintes apresentam possibilidades de variação Rítmica e Harmônica.
    Em DIFERENTES PROCESSOS DE DISTRIBUIÇÃO E CONDUÇÃO DE VOZES,  como já foi comentado acima, apresentam-se a condução de voz tradicional e a condução em bloco. Os tópicos abordados são os seguintes: Aspectos GeraisConduçãoDistribuiçãoCondução do Baixo e Condução em Bloco.
    Seguem duas seções relacionadas entre si: HARMONIA eTÉCNICAS DE REHARMONIZAÇÃO. Nesta duas seções discute-se harmonia sob o ponto de vista da Teoria do Jazz. Segundo JAFFE os acordes são combinados em progressões da mesma forma que átomos formam moléculas; na Música como na Química combinam-se blocos construtivos em estruturas maiores e mais complexas. A  primeira seção HARMONIA é organizada em tópicos em ordem crescente, há três tópicos básicos:Harmonia FuncionalHarmonia Não Funcional e Modulação. O primeiro tópico apresenta a expansão gradual da estrutura diatônica. A partir de Acordes Diatônicos de quatro notas relacionados àsFunções Básicas de Tônica, Sub-dominante e Dominante, evolui-se no sentido de Dominantes Secundárias e SubstitutasAcordes Diminutos e Meio Diminutos e Empréstimos Modais. No segundo tópico Harmonia Não Funcional, são abordados os acordes que, sendo sétima de dominante, não são usados com esta função. Este tipo de procedimento é comum dentro do contexto do Blues onde aparecem cadências do tipo I7, IV7I7. No tópico Modulação apresentam-se processos baseados na cadência II-V tradicional da música popular, Acorde Pivô, Acorde Diminuto e Modulação Sem Preparação.
    Em TÉCNICAS DE REHARMONIZAÇÃO, são analisadas diferentes maneiras de modificar a harmonia de uma melodia dada. O ponto de partida é a harmonia como apresentada no parágrafo anterior. Em termos de procedimento o primeiro passo é identificar os acordes e as suas funções harmonicas básicas. A partir daí uma série de técnicas podem ser aplicadas como Modificação Diatônica de Progressão de AcordesTransformação de Acordes por Similaridades, uso de Dominantes Substitutas, uso da Linha do Baixo como Guia de ReharmonizaçãoEmpréstimos ModaisInterpolação do Encadeamento II-V, entre outros. A aplicação de uma técnica espefícica depende fortemente do contexto no qual a melodia está inserida.
    Em PLANEJAMENTO E FINALIZAÇÃO DE UM ARRANJO, o objetivo é apresentar mecanismos práticos que podem para ajudar o aluno na organização de idéias e no desenvolvimento da escrita do arranjo. A metodologia apresentado foi pesquisado em três autores GUESTDELAMONT e JAFFE.Portanto esta seção é uma compilação de informações e deve servir de guia ao aluno. É inviável, sob o ponto de vista criativo, colocar o aluno frente a um conjunto processual e pedir que ele siga o modelo. Os tópicos apresentados foram escolhidos no sentido de apontar para  referências que podem servir de guia. A noção de projeto, que é comum nas áreas de engenharia e sobretudo em arquitetura, cabe também no contexto da criação de um arranjo. O desenvolvimento de um projeto equilibrado e de bom senso, levará a uma obra coerente.
    O desenvolvimento de um arranjo a partir de um projeto prévio é ressaltada por Nestico que, em entrevista com Wright, disse o seguinte: Normalmente não escrevo minha introdução no início, acredite nisto ou não. Começo no primeiro "chorus" e ao criar qualquer material para chegar ao segundo "chorus", volto e utilizo este material na introdução e na finalização. Este procedimento conecta o arranjo num todo único, o faz correlato. Podem haver diferentes tonalidades, mas faço com que soem consistente. Lembro que nos meus primeiros anos, gastava dois ou três dias para escrever um arranjo e a cada dia o sentia diferente e isto tornava-o inconsistente. Alguns aspectos pareciam bons em 4 e no próximo dia em 2 e minhas figuras rítmicas não eram consistentes. Agora tento conectar tudo junto, para encontrar algo que me mantenha trabalhando. Entendo também que se começo sem nenhuma idéia do que fazer, um projeto, sento aqui por longo tempo tentando realizar o arranjo. Mas se tenho um projeto como por exemplo: "primeiro chorus assim, segundo chorus assim, vou fazer isto, vou chegar aeste ponto",então ao menos tenho algo para me guiar, um modelo. Toda vez que não tenho um plano prévio, sento e fico olhando para o papel. É um espaço para definir  o que vou dizer neste arranjo, qual será o aspecto mais importante, se haverá modulaçãoou qualquer outra coisa. Penso que meus melhores arranjos são aqueles que canto a melodia no carroou em algum lugar longe do piano. Canto a melodia e,se ela é suficiente por si mesma, já tenho isto feito...tento criá-lanteressante,a coloco em bloco e trabalho as figuras para o swing. A partir deste depoimento, nota-se que o planejamento é um processo importante na concretização de um arranjo. Os tópicos abordados nesta seção estão voltados nesta direção. São os seguintes: Planejamento Estrutural, Instrumental,Harmônico, Rítmico e Melódico  e Escrita e Finalização.
    Finalmente, a seção ESCRITA PARA BIG BAND  engloba os pontos apresentados nas seções anteriores. Não somente o arranjo para um conjunto específico como uma Big Band, como qualquer outra formação instrumental, se vincula aos conhecimentos discutidos nesta home page. Todavia, este conjunto que tem uma configuração especial e uma sonoridade peculiar, pode servir de modelo de estudo.  Muito da sua idiomática vem da articulação rítmica, ou seja, do swing com o qual a melodia é executada. Outro ponto relevante é uso de seções instrumentais como blocos unitários de sonoridade compacta.  Como discutido em parágrafo anterior, o paralelismo usado nesta estrutura  é paradoxal à postura tradicional de condução de vozes. Todavia, o bloco em si pode ser tomado como uma voz única e desta forma pode-se estabelecer outras relações sonoras. DELAMONT reitera que o conceito de bloco sonoro funcionando como unidade, leva a construção de antifonias entre blocos. Usam-se contrastes entre seções instrumentais no lugar de contraponto escolástico.  O primeiro tópico desta seção denominado de Planejamento do Arranjo, está vinculado ao parágrafo anterior. O tópico Blocos Instrumentais, apresenta a configuração padrão da Big Band em  seções individuais: Metais Agudos e Graves e Saxofones. O tópico Seção Rítmica, discute o conjunto de instrumentos que é responsável pela sustentação do rítmo e da harmonia. Os outros tópicos Mecânica de Escrita em BlocosIntroduçãoVariações e Interlúdios descrevem métodos para o desenvolvimento do arranjo, desde a escrita em blocos até procedimentos para enriquecimento do conteúdo musical do mesmo.



    Há uma seção de EXERCÍCIOS seguida de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS e endereços deSITES que estão relacionados com o assunto.

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